segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Efemérides

Pelos momentos que queremos prolongar pela vida adentro.

Por todos os momentos que queremos infindáveis, como um Domingo à tarde.

Porque tudo na vida é efémero, como o pôr-do-sol.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Margens, de outras maneiras

Zaire significa muitas coisas, sob vários nomes e diferentes línguas: uma província de Angola, um país e um rio entre os dois esse rio de caudal constante (como o cão), que de um dos lados se chama Zaire e do outro Congo. Deve ser uma questão de pronúncia.
Há muitas formas de dizer uma só coisa, mesmo que essa não queira dizer nada.
Mas Zaire tem inúmeros significados, nunca eles dúbios, significa um grande caudal, um nunca mais parar de águas, uma torrente de sólidos, lamas, vidas, mangais de vidas polvilhado. É o segundo rio mais caudaloso do Mundo, sem ser de perto um dos maiores.
Uma das coisas maravilhosas do Soyo é esse rio, esse mesmo que por Zaire responde do lado de cá da margem. Por todas as praias se estende, em todos os areiais deixa a marca da sua infindável espuma, em todas as línguas (nas de cá e nas de lá) se espera que traga abundância a esse povo que, sem ser Angolano ou Congolês, é apenas do Rio.
O rio molda as suas vidas, é na maresia que se embala o comércio e se transita livremente entre margens.
Sem querer ser exagerada a distância entre margens, as de lá e as de cá, diria que são uns 5km bem medidos. Do outro lado apenas se vislumbram sombras de casas e de vidas.
Embora conhecer o rio seja uma empreitada de uma vida, não quis deixar desta vez de desafiar as águas e fronteiras do lado de cá. O plano não era bem andar de barco, mas a tarde já se estendia bem no dia, pelo que a praia parecia já uma miragem. Embarcou-se então numa aventura, destoutra mais venturosa.
Um barco, uma chata, uma barcaça, uma jangada, chamem-lhe o quie quiserem, eu chamar-lhe-ei apenas barco.

Barco esse que tinha um motor, que funcionava mais ou menos, seja lá o que isso for. Pelo longo caudal de águas castanhas (do rio que tudo arrasta se diz turbulento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem) naveguei rumo à ponta do Padrão, não deixando nunca de ter em mente Diogo Cão e sua tripulação montada numa casca-de-noz, entrando rio adentro, procuramdo água doce, lutando contra o escurbuto e beriberi e outras doenças que tais. gente venturosa essa que se fez Atlântico abaixo, Atlântico acima...


O Padrão procurava eu no horizonte, mas não o vislumbrei. talvez lhe tenha ficado o nome de outros tempos.


Dentro do barco alguém, vigorosa mas ineficazmente tentava lutar contra a água que ocupa não mais daquilo que seu é. Não vale a pena: à água o que é da água!


A volta é bonita, entre os mangais desenham-se algumas povoações e alguns caminhos que ao mar vão dar.


Hora é de voltar para trás. Não querendo ser repetitiva vem-me à cabeça uma música: "oh sailor..." mas também sorrio ao pensar na Nginga Mbandi ao entoar, destoando e distorcendo a letra para "Queen of the Congo, Queen of the Congo, Kong/ Hit me when I come..."