sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Dicionário mwangolé

ANGOLANO não entra, BÓKUA !
AGOLANO não vende, PÁYA !
ANGOLANO não está mal, TÁ MALAIKE !
ANGOLANO não Viaja, SAPA !
ANGOLANO não liga Luz, FAZ UM GATO !
ANGOLANO não é diplomata, É NGUVULO !
ANGOLANO não escuta música, CURTE OS BRINDES !
ANGOLANO não conquista mulher alheia, TROLA !
ANGOLANO não tem moto, TEM UMA TURRUM !
ANGOLANO não é multado, É PENTEADO !
ANGOLANO não está aflito, ESTÁ PAIADO !
ANGOLANO não difama, ESTENDE, ZONGOLA !
ANGOLANO tem dinheiro, ESTÁ BOSSANGA !
ANGOLANO não tem ressaca , Tem PELENGUENHA !
ANGOLANO não vê mulher bonita , Vê MBOA !
ANGOLANO não tem namorada, Tem GARINA...DUCHA....GADAIA
ANGOLANO não olha, GALA, MARA !
ANGOLANO não tem traje de gala, Tem GRIFE !
ANGOLANO não pega , CANGA !
ANGOLANO não tem rabo, Tem MBUNDA !
ANGOLANO não bebe cerveja, BITOLA !
ANGOLANO não tem alguma coisa, Tem um MAMBO !
Angolano não esturque, Parte o braço
Angolano não facilita, Dá falida
Angolano não tem Mulher ou Namorada,.Tem dama/ xkindosa/Fofucha
Angolano não conquista a mulher, Dica a dama
Angolano não fala, Dá uma dica
Angolano não e polígamo, É gajo de gajas
Angolano não atende funeral, Vai ao Comba
Angolano não faz crédito, Faz Kilapi
Angolano não pensa, Banzela
Angolano não vai, Tira o pé
Angolano não diz: tudo bem?, Diz: Tass?
Angolano não rouba, Gama
Angolano não um simples cidadão, E um granda MADIEEEEEÉ.
Angolano não atrapalha, Maia
Angolano não ultrapassa, Da mbaia
Angolano no táxi não encosta, Emagrece, emagrece
Angolano não morre, Da caldo ou da ntum
Angolano não estuda, Amarra
Angolano não conduz, Ele pega ou nduta
Angolano não come, PITA.
Angolano não bebe, CHUPA.
Angolano não roça., TARRACHA.
Angolano não toma o pequeno-almoço, MATABICHA.
Angolano não vai a festa, VAI AO BODA
Angolano não veste, TRAPA
Angolano não trabalha, BUMBA
Angolano não luta, BILA
Angolano não curte, TCHILA
Angolano não faz amor, TCHACA, CUNA, PÉRA
Angolano não peida, BUFA
Angolano não faz xixi, SUSSA
Angolano não mente, DÁ JAJÃO
Angolano não tem amigo, TEM CAMBA
Angolano não goza, ESTIGA
Angolano não é grosso, É CAENCHE
Angolano não tem mama, TEM XUXA
Angolano não vai para terra, VAI PARA BANDA
Angolano não tem mau hálito, .TEM DZUMBA MALAICA! CATINGA
Angolano não Pendura em carros, Magwela
Angolano não faz a bola passar por cima, Cabrita ou dá mé
Angolano não faz a bola passar entre as pernas, Dá Ova/Tchobo
Angolano não tem sorte/oportunidade, Tem fezada
Angolano não Dinheiro, Tem Cumbu/sujos/massa/moeadas
Angolano não Viola, Ngombela
Angolano não é criança, é ndengué
Angolano não é mais velho/velha, é kota, papoite, mamoite
Angolano não passeia, Zunga
Angolano não sente frio, Sente Kawelo
Angolano não afunda, Smasha
Angolano não faz musculação, Manguita
Angolano não sai à noite, Desbunda
Angolano não arranja dama, Lhe Morrem
Angolano não tem finta, Tem vira-vira/ desenquadro
Angolano não telefona, Manda Kolmi
Angolano não tem fome, TÁ Fobado
ANGOLANO NÃO COME, PÁPA
ANGOLANO NÃO É ANGOLANO, É MWANGOLÉ
ANGOLANO NÃO É REFUGIADO, É TURÍSTA

KUIA MALÉ SER MWANGOLÈ

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Domingo no Mundo!

Para a minha família e para os amigos Eduardo e Rafael que foram para tão longe

Há uns anos atrás, a minha prima registava em regime cinematográfico, um dia de Domingo em família, mas à boa moda Angolana: à volta da mesa. O documentário intitulava-se “um olho para ver, outro para sentir”. O da minha prima retratava o nosso Domingo, simplesmente assim.
Quando estamos tão longe de casa, tentamos recriar essas memórias que trazemos connosco. Aqui no Huambo também se criam raízes e família.
Este Domingo, fui aprender a fazer um kalulu, prato típico angolano com óleo de palma, quiabos, peixe, beringela e folhas de batata-doce, acompanhado com um belo fungi de mandioca e milho.
Depois de reunir os ingredientes necessários, dirigi-me a casa da mana Lu, para aprender com a mestre.
Vou tentar recriar aqui a minha experiência.
Falando em Umbundo, são necessários os seguintes ingredientes:
- ulele wondende (óleo de palma);
- olossaka (beringela)
- amatiá (tomate);
- peixe (corvina fresca e peixe seco);
- rama de batata doce.

Para a confecção deveremos dispor do lemo (Oluiko e Ochitó), ómbia (panela), Oneca (caneca), onguto (garfo), entre outros.
A tarefa começou por arranjar o peixe, temperado com sal e alho.
Para dentro da panela reunimos os quiabos (uma mão cheia), 4 beringelas, 5 tomates, o peixe, o óleo de palma q.b.


Nota: O óleo pode ser excedentário, porque se pode depois retirar do cimo depois de cozinhado.
Esta mistura põe-se a refogar…
Entretanto a mana Lu, explicava-me que eu sou uma mulher a sério, que o meu homem vai direito para o céu, porque eu já tenho um lemo. Isto é um conjunto composto pelo pau de bater o fungi e uma colher de pau. Como já tenho também um balaio, sou uma mulher angolana completa. É engraçado saber destas tradições. A Colher de pau (Ochitó) serve para servir o pai e o marido, e quando te vais casar é analisado o facto de teres ou não este eficiente trem de cozinha.
Enquanto esperávamos pelo refogado, começámos a peneirar a fuba. Reunimos duas espécies: de milho e bombom (mandioca). Como fizemos mistura, há que executar a tarefa de acordo com os rigorosos critérios da cozinha angolana. Coloca-se numa panela a água até que esta fique morna. Em primeiro lugar coloca-se a farinha de milho, que fica a cozer, como a maizena, até engrossar. Depois quando começar a ferver deita-se a farinha de bombom, para engrossar e dar aquele aspecto de argamassa. Não se pode por primeiro a farinha de mandioca, senão não se consegue fazer a mistura. Também é preciso ter cuidado para que não se criem grumos.

O cheirinho que a cozinha tinha! Já tinha água a crescer na boca e a malta não chegava para almoçar. As cores do refogado e a companhia do meu amigo Nelito, fizeram o resto das delícias.

Depois foi só sentar à mesa, servir no prato e acompanhar com uma cuca. Pena foi ter que vir trabalhar e não podido ficar a jiboiar…

Assim são os Domingos em família no Huambo!


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

É Carnaval, ninguém leva a mal!




É Carnaval, é tempo de folia e de foliões. É tempo de dar asas à imaginação e soltar de dentro do peito as mais recônditas fantasias.
Há os que aguardam todo o ano para se fantasiarem de mulheres, há outros que simplesmente tiram a máscara!
Desde há muito tempo que não passava o Carnaval longe da família, longe da azáfama de última hora para tentar descobrir o que iríamos trajar. Normalmente estaria à volta de um agrafador e de uma máquina de costura a lutar com um pedaço de tecido na expectativa de que ele se transforme numa farda de Carnaval apropriada para ir ao desfile.
Este ano foi um pouco diferente, não sem o seu quê de emocionante e inovador, fui para Benguela, onde o Carnaval é a sério!
Saí de Huambo na sexta-feira ao fim da tarde, juntamente com outro folião e amigo de farra séria, rumo a Luanda. O trajecto é o que sabemos, mais buraco para a esquerda, mais buraco para a direita, mas o destino lá se aproximava. Por volta da meia-noite vislumbrámos Catete e ao fundo já se sentia o cheiro de Luanda. Um céu polvilhado de estrelas, que estendiam o seu denso manto até ao chão, foi salpicando e embalando a nossa viagem.

Chegada a Luanda, há que retemperar as forças com uma banhoca fresquinha, que é a única coisa fresca naquela cidade, dormir umas horas para ao amanhecer sair para Benguela.
Fomos fazendo umas paragens estratégicas pelo caminho: as salinas (Porto Amboim), no Sumbe (almoço), quedas de água do Sumbe, uma praia deserta só para nós…

Fomos rumando a Sul, em direcção aos nossos acolhedores amigos (obrigada mais uma vez pela vossa hospitalidade) que nos aguardavam para dar guarida para a noite.
Chegados a Benguela, depois de um preenchido dia de viagem, só nos restava descansar. Ainda que fosse apetecível ver o jogo do Glorioso, não aguentei até ao intervalo e tive que ir jiboiar. Escusado será dizer
que não foi possível acordar-me.
No dia seguinte de manhã, há que partir à aventura, rumo a Baía Farta. Umas praias desertas maravilhosas, no meio do deserto (literalmente falando) e onde certamente não seremos capazes de retornar. Tivemos como companhia os pescadores, que na sua azáfama lançavam as redes e as puxavam da água carregadas de peixe e outros habitantes marinhos. É engraçado ver como as realidades são tão distintas!
Para terminar a noite em grande, fomos a uma festa de Carnaval na
Baía Azul. Escusado será dizer que todos estavam mascarados, excepto nós. Desculpem avó, manas e primas, mas não fiz jus à nossa ancestral tradição familiar!
Depois há que partir rumo a Norte, direcção Cabo Ledo, onde pernoitei uma noite. Um banho de mar às 21:00 iniciou a minha estadia, depois de ter visto os últimos 15 min. do jogo da Selecção Angolana contra a Egípcia. Infelizmente perdemos, mas isso não nos desmoralizou. Há que assentar os arraiais e montar a tenda no local mais fofinho da praia! Foi óptimo.
No dia seguinte parti para Luanda, não sem antes fazer uma paragem estratégica para carregar a arca frigorífica de peixe para trazer para o Huambo. Não podia desta vez, defraudar as expectativas.
De Luanda, parti para o Huambo.
Obrigada a todos os que estiveram presentes, aos que tiveram que descobrir da pior forma que eu tenho mau humor matinal e aos que me fizeram companhia e tornaram a minha vida melhor.
Peço desculpa a todos para os quais estive ausente: avós, manas, primas e primos, e resto da família em geral. É claro que eu não me esqueço que tenho um tuperware de cozido à portuguesa e uns bolinhos de massa tenra à minha espera no congelador! Me aguarda só, ya!