domingo, 19 de dezembro de 2010

Quem quer ser Mwangolé?

5 motivos que me levam a questionar se não estou mesmo a ficar Angolana e daí a minha sanidade mental:
- entrar e desespero por não haver uma bomba livre com a mangueira do lado do depósito do meu carro;
- apetecer gritar MOÇO (o que nunca faço), quando um qualquer empregado de café nos ignora;
- sair de casa com 30ºC e achar que está agradável;
- estar no Plano B a pensar "agora uma kizomba é que era!";
- achar que 33€ por um jantar é bastante aceitável.
Se eu realizasse um filme, esta música seria sem dúvida parte da banda sonora.
Cenário de fundo da minha vida, seria um dia de sol de Inverno, numa explanada à beira-mar.

domingo, 28 de novembro de 2010

Uma chuvinha

O céu em África é uma infinidade de experiências. O céu em África é uma imensidão.

O Céu em África é a verdade da cor. Ora azul, ora branco, ora púrpura, ora cinza contendo a fúria do Mundo.

Hoje o céu de Luanda transformou-se. O negro ocupou todo o horizonte, a lama ocupou as estradas, a água foi buscar o que é da água.

A Baía galgou as margens, as encontas tornaram-se numa torrente. As estradas tornaram-se intransponíveis. Os carros desistiram da luta e fossos existem agora no lugar do asfalto. O caos instalou-se na cidade, os refugios ficaram lotados, as casas inundadas. O cidadão comum em faxineiro se transformou.
3 vezes em 2 semanas.
Sr. Obama, não acha que está na hora de ratificar o Protocolo?

domingo, 24 de outubro de 2010

Coisas

É preciso ter muito azar.

E não é que ela estava à hora errada, no sítio errado?! Uma coincidência a maior parte das vezes fatal e sempre terrível.

Qual a probabilidade de estes dois acontecimentos sucederem simultaneamente?

Tudo corria bem, até que um dia, um dia daqueles em que o sol nasce especialmente bonito, com um pôr-do-sol estarrecedor, que faz com que tudo o resto no mundo pareçam detalhes insignificantes. Pois um dia desses, em que tudo se conjugava para correr bem, eis que algo de extraordinário sucedeu.

O mundo, esse começou a rodar ao contrário. Foi mesmo assim, foi lá nos quê na trás do coiso, sei lá mais.
Mas é assim mesmo que acontecem as coisas extraordinárias e estúpidas, tal como todas as grandes descobertas aconteceram por acaso. Um acaso dos grandes, mas que propulsiona a vida para a frente!

sábado, 9 de outubro de 2010

Aqui e ali















Foi por isto que andei muito escondida...

terça-feira, 31 de agosto de 2010

out of order...

Por motivos gerados por súbita deslocação a Moçambique!

sexta-feira, 2 de julho de 2010


a loucura em Angola tem vários graus de manifestação. Tem também vários graus de evolução os quais se manifestam de formas variadas e sempre animadas.


Vamos falar de comunicações, mas comunicações móveis.
Passo a transcrever a conversa que teve laivos de surrealidade travada noutro dia ao telefone:
" olá, tudo bem?"
" tudo e tu? Já estás na tua terra favorita?"
"Onde? Como sabes de Quilengues?"
" Desculpa, não te estou a perceber"
"Quilengues, como sabes? Contei-te a história"
"Mas estás parva, estás-me a dizer que estás em Loures?"
Ataque de riso do meu lado do telefone...

"importas-te de repetir a pergunta?" (eu entre soluços)
"já estás a descansar?"

Quase dei a volta ao mundo sem encontrar tradução para a insanidade mental a que nos levam as comunicações móveis em Angola!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Se eu soubesse escrever

Aqui há dias o meu primo pedia-me para lhe enviar em mp3 "quando eu morrer" do Fausto.
Isso teve o efeito de despertar em mim uma vontade imensa de re-ouvir a Preto-e-Branco.
Se soubesse escrever também gostaria de escrever assim.
Aqui fica um dos mais deliciosos poemas do album, para quem sabe ouvir mas não pode ler.

"eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que em dissesse deste anseio,
deste anseio
de te ver
deste receio
de te perder
deste mais que bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue,
desta saudade a que vivo todo entregue

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta de confidências intímas
uma carta de lembranças de ti,
de ti
dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como dilôa
dos teus olhos doces como macongue
dos teus seios duros como maboques
do teu andar de onça
e dos teus carinhos
que maiores não encontrei por aí...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que recordasse os nossos dias na câpopa
das noites perdidas no capim

que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
o luar que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura da nossa paixão
e a amargura da nossa separação... eu queria escrever-te
uma carta
amor,
que a não lesses sem suspirar
que as escondesses de papai Bombo
e que a sonegasses de mamãe Kiesa
que a relesses sem a frieza
do esquecimento
uma carta que em todo o Kilombo
outra a ela não tivesse merecimento

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que ta levasse o vento que passa
uma carta que os cajus e cafeeiros
que as hienas e as palancas
que os jacarés e os bagres
pudessem entender
para que se o vento a perdesse no caminho
os bichos e as plantas
compadecidos de nosso pungente sofrer
de canto em canto
de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar
te levassem puras e quentes
as palavras ardentes
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor

Eu queria escrever-te uma carta...
Mas, ah, meu amor, eu não sei compreender
por que é, porque é, porque é, meu bem
que tu não sabes ler
e eu- Oh! Desespero- eu não sei escrever também!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

MacGyver de aeroprto

Todos sabemos que vivemos na era do medo. Na era do pânico, conscientes de que o cidadão x pode ser um qualquer bombista insatisfeitos com séculos de subserviência perante a Europa e os Estados Unidos.
Mas nós, europeus, continuamos a viver sobre a égide da suprema segurança. Aguentamos com regras de segurança completamente idiotas, mas que compreendemos tratar-se de um mal menor. Ajamos então em prol da Civilização.
Contudo, há sempre aquilo que se designa por excesso de zelo, com especial ênfase nos aeroportos.
Se falarmos de um aeroporto em Angola, então a coisa complica mesmo.
Toda a gente sabe que dentro de uma carteira de uma mulher há um conjunto de coisas completamente inúteis, dispensáveis dirão os homens, e que só estorvam na maior parte do tempo, mas que em dada ocasião já foram ou poderão vir a ser úteis.
Uma dessas coisas é a pinça. Não há objecto mais precioso, é sempre necessário.
Experiência: trazer uma pinça na carteira no aeroporto doméstico de Luanda.
RX, esse metodologia recentemente descoberta, mas muito versátil e que se revelou de grande utilidade para detectar frascos de perfume nas carteiras das senhoras.
Eis que a pinça é detectada.
Diz o senhor do outro lado: tem pinça aí dentro!
Eis que a dama, do outro lado estupefacta, balbucia: sim, e?
E?? Tem que deixar?
Porque, continua incrédula do outro lado.
Porque sim!
mas está a gozar comigo?
Um não rotundo desenhou-se nos lábios...
Entretanto alguém murmura: pois é, uma mulher munida de uma pinça, pode-se enfurecer e atacar alguém no avião!
Haja gente sadia neste mundo.
mas hoje senti-me como um iraniano a tentar entrar no espaço Shengen.
Agora só espero que não acusem de conspiração a amiga que traz uma nova pinça da Europa!

quinta-feira, 11 de março de 2010

all we need is

I'm not like you Guys, You can just leaaaaave....

E então saímos, e vejam o que encontrámos.

É tão boa a liberdade!

sábado, 6 de março de 2010

terça-feira, 2 de março de 2010

A suprema humilhação...

A suprema humilhação foi algo que gozei estes útlimos dias.
Como se não bastasse estar num campo onde temos 3 vedações de arame farpado e uma linha de água, do outro lado o rio Zaire e 3 portões, horários de entrada (22:30 à semana e 00:30 ao Sábado), ainda nos colam números na roupa interior (e na outra também). Mas é mesmo preciso?
Senti-me verdadeiramente como um condenado num campo de concentração. Números nas cuecas???!!! É a suprema humilhação é o que vos digo, o golpe final, a machadada na democracia...
Além do mais, aquela incineradora a funcionar à noite, a deitar fogo pelas ventas, não é mera coincidência...
Welcome to Little America! Have a nice holliday...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Efemérides

Pelos momentos que queremos prolongar pela vida adentro.

Por todos os momentos que queremos infindáveis, como um Domingo à tarde.

Porque tudo na vida é efémero, como o pôr-do-sol.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Margens, de outras maneiras

Zaire significa muitas coisas, sob vários nomes e diferentes línguas: uma província de Angola, um país e um rio entre os dois esse rio de caudal constante (como o cão), que de um dos lados se chama Zaire e do outro Congo. Deve ser uma questão de pronúncia.
Há muitas formas de dizer uma só coisa, mesmo que essa não queira dizer nada.
Mas Zaire tem inúmeros significados, nunca eles dúbios, significa um grande caudal, um nunca mais parar de águas, uma torrente de sólidos, lamas, vidas, mangais de vidas polvilhado. É o segundo rio mais caudaloso do Mundo, sem ser de perto um dos maiores.
Uma das coisas maravilhosas do Soyo é esse rio, esse mesmo que por Zaire responde do lado de cá da margem. Por todas as praias se estende, em todos os areiais deixa a marca da sua infindável espuma, em todas as línguas (nas de cá e nas de lá) se espera que traga abundância a esse povo que, sem ser Angolano ou Congolês, é apenas do Rio.
O rio molda as suas vidas, é na maresia que se embala o comércio e se transita livremente entre margens.
Sem querer ser exagerada a distância entre margens, as de lá e as de cá, diria que são uns 5km bem medidos. Do outro lado apenas se vislumbram sombras de casas e de vidas.
Embora conhecer o rio seja uma empreitada de uma vida, não quis deixar desta vez de desafiar as águas e fronteiras do lado de cá. O plano não era bem andar de barco, mas a tarde já se estendia bem no dia, pelo que a praia parecia já uma miragem. Embarcou-se então numa aventura, destoutra mais venturosa.
Um barco, uma chata, uma barcaça, uma jangada, chamem-lhe o quie quiserem, eu chamar-lhe-ei apenas barco.

Barco esse que tinha um motor, que funcionava mais ou menos, seja lá o que isso for. Pelo longo caudal de águas castanhas (do rio que tudo arrasta se diz turbulento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem) naveguei rumo à ponta do Padrão, não deixando nunca de ter em mente Diogo Cão e sua tripulação montada numa casca-de-noz, entrando rio adentro, procuramdo água doce, lutando contra o escurbuto e beriberi e outras doenças que tais. gente venturosa essa que se fez Atlântico abaixo, Atlântico acima...


O Padrão procurava eu no horizonte, mas não o vislumbrei. talvez lhe tenha ficado o nome de outros tempos.


Dentro do barco alguém, vigorosa mas ineficazmente tentava lutar contra a água que ocupa não mais daquilo que seu é. Não vale a pena: à água o que é da água!


A volta é bonita, entre os mangais desenham-se algumas povoações e alguns caminhos que ao mar vão dar.


Hora é de voltar para trás. Não querendo ser repetitiva vem-me à cabeça uma música: "oh sailor..." mas também sorrio ao pensar na Nginga Mbandi ao entoar, destoando e distorcendo a letra para "Queen of the Congo, Queen of the Congo, Kong/ Hit me when I come..."


sábado, 23 de janeiro de 2010

Portugal ou um outro local qualquer do Norte da Europa


E porque não? Afinal não somos todos altos, loiros e espadaúdos?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Funge na Cachupa

A minha família é assim, meia esquisita, tipo Funge na Cachupa.
Sempre comemos coisas estranhas, que mais ninguém come e que ninguém parece conhecer ou ter ouvido falar e, quando ouvem, ficam arrepiadas.
Não obstante de na nossa casa sempre se ter comido funge e Muzongê, coisas que petrificavam as minhas amigas de medo, há coisas bem mais estranhas a entrarem nos nossos sistemas digestivos.
Então lembrei-me de fazer uma lista de coisas só nós comemos e mais ninguém conhece:
- pão com manteiga e açúcar. Imaginem-se crianças e a vossa mãe proibiu-vos de rapar a bacia da massa do bolo. Agora, há uma figura adorável nas nossas vidas chamada avó, que nos dá um belo papo-seco com bué de manteiga e açúcar. Os olhos já brilham, não é?
- arroz de forno no dia seguinte com ovo estrelado por cima. Os restos do arroz torrado, agarrado à assadeira, bem tostado como eu gosto. Já imagino a mais nova a lamber os lábios;
- salada de azedas, essa bela erva que cresce nos muros Transmontandos e da qual até os mais cépticos (aqueles que duvidavam da existência dessa mítica planta) se tornaram fiéis seguidores.
- bolo de Gilda: com suas frutas secas a rodos, o creme de ovo a cobrir todo o bolo e regado com muitas saudades. É feito com muito amor e carinho e toda da dedicação do MUNDO. É o bolo oficial da família, é aquele que se usa nas melhores festas. Se há celebração, há bolo de Gilda.
- Banana com queijo...E há quem tenha comparado isto a comer pizza com arroz. Há gostos para tudo;
- massa de cabidela de coelho: ai que saudades. Tenho que parar já com isto.
-e agora, the last but not the least, o mais hediondo, o mais arrepiante e horripilante: ovo estrelado com açúcar na gema. Sim, eu sabia que essa seria a vossa reacção.
Mas não interessa o que comamos, porque teremos sempre um resto de bifinho no forno, para pôr dentro do pão e apaziguar os estômagos mais revoltos e apaziguar a fome.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Primeira década!

Passagem de ano.
Planos? Esses eram muitos, mas não concretizados.
Acabou-se por encetar uma solução agradável e calma, da qual todos os participantes alinharam.
O Plano era simples: sair às 15:00, para apanhar o barco, transportar todas as nossas imbambas (nem imaginam quantas) ainda de dia e aproveitar o último dia do ano.
Bom, eram 17:00 quando saímos de casa assolados com a seguinte notícia: a estrada para o embarcadouro estava fechada! E agora, vamos fazer mais como então? As coisas eram mais que muitas, para trás deixámos o que poderia ser dispensável (claro que não foi a cerveja que deixámos para trás).
Enfim, lá se arranjou forma de nos transportarem as imbambas (por 2000 kz que nesta altura do ano a inflação aumenta), com o recado do transportado "avisa só as kotas que vêm aí para queimarem". Ou seja, era mais que tarde e fazer a viagem de barco à noite era algo que ninguém colocava.
Chegámos a correr, apanhámos o barco (pelo dobro do valor normalmente praticado também), fiz a viagem a uma velocidade alucinante com uma botija de gás aos pés e com um parceiro de banco que dizia: "esse mambo está descontrolado".
Chegámos a bom porto, ainda a tempo de ver de terra o último pôr-do-sol da primeira década do século. como não podia deixar de ser, deslumbrante como só em África pode sê-lo.

(primeiro pôr-do-sol de 2010) ~

Descarregámos na simpatiquíssima casa da família Batalha, que nos acolheu no último e primeiro dia do ano.
Só havia um senão: a bomba estava avariada e tínhamos que tomar banho com o famoso caneco. Ninguém se pareceu importar muito com isso. Afinal, a vida em África, por muitas versões que se apresentem, é sempre assim.

Aproximava-se a hora da mudança de ano e ninguém tirou a indumentária: saia ou calças de praia, t-shirt (ou simplesmente para os srs. de tronco nu) e em comum as havaianas (como dizem os angolanos: sai e vai).

Estava uma temperatura mínima 29ºC e ninguém parecia importar-se com isso.
Jantámos um belo repasto que o calor exigia, regado com umas cervejinhas fresquinhas, e para matar saudades de casa uma bela garrafita de maduro tinto.

Tudo é diferente: calor, churrasco, cerveja, pés na areia, ao contrário de frio, bacalhau e peru, vinho e pés em frente à lareira.

(mesa de jantar)


Meia noite: estava tão preocupada a engolir as passas com a porcaria do champagne que nem consegui pedir os desejos. Todos os anos é a mesma coisa. Só desejei que tudo acabasse rápido... mentira, lembro-me de um desejo relacionado com o euro milhões!
(make a wish upon a star)


À meia noite com os pés dentro de água, fogueiras e festas em toda a parte. Estes angolanos sabem como fazer uma festa!


Nós alinhámos na festa, afinal faziamos parte da família!


Muitos são os desejos para 2010:


- que todos os pôr-do-sol sejam como este do primeiro ano,
- que os amigos estejam sempre presentes;

- que os dias sejam quentes e cheios de esperança e confiança na mudança,
- que amanhã acordemos e estejamos num lugar muito melhor.



Dia 1- Dia de Iury da Cunha. Os meus ossos já não estão para isto. À espera até às 4:00 por um concerto, acabámos por chegar a casa completamente derreados às 6:00. Ao volante alguém gritava: onde está o meu Logans! Como diria uma amiga: MEDO!



Dia 2 - Sangano
(Miradouro da Lua, a caminho da Barra do Kwanza)


Há dias maravilhosos. What else?


Recomendações para 2010? Vamos fazer mais como então?