domingo, 25 de outubro de 2009

Dia Mundial do Quê?

Angola é um eterno paradoxo do contra-senso.

Ouvia atentamente na rádio local que era o dia mundial do motorista, ou algo semelhante. Para o comemorar nada melhor que chamar os nomes sonantes para discutir a mortalidade rodoviária.

O locutor revelava que é a sinistralidade rodoviária a segunda maior causa de morte em Angola, a seguir à Malária. O objectivo era apurar as causas de tamanho flagelo.

Abismada ouvi a enumeração das mesmas: estradas mal construídas, falta de sinalização, e um rol de informações desnecessárias.

Porque não começamos pelo início? Será que ninguém equaciona a falta de civismo?

Talvez devessemos começar por aí.

sábado, 17 de outubro de 2009

Dia 3 -frequências e bites

Os dias são contados por números.
Números que significam horas, km, coisas, pessoas, decibéis e frequências… tudo o que vemos, fazemos são números de coisas.
Assim, chegámos ao dia 3. Este dia foi o dia de Circles (dos Soul Coughing). Círculos, porque a Terra é redonda, porque as coisas mais preciosas da vida não têm ângulos rectos, e acima de tudo, porquê andar em linha recta quando podes andar em círculos?
Bom, dia número 3, começa numa pousada da Juventude em Pula, na península de Hístria.
Duas adolescentes em fúria conversam em voz alta (depois de uma noite a ranger os dentes, ninguém merece). Como sou mal afamada nestas coisa de mau acordar mandei-as ir pregar para outra freguesia. Tendo em conta que a nossa diferença de idades era superior à metade da minha idade (certamente) obedeceram-me e calaram-se. Depois acenderam a luz: mas que mal fiz eu ao Mundo??
Já não havia mais nada a fazer senão entrar nas sharede facilities da pousada e ir resmungar para o banho de água fria…
Para além de circles, também há uma música que se adequa e me palpita no cérebro, que começa: estou velho, dói-me o joelho, dói-me parte do antebraço….
Depois arriscamo-nos a ir tomar o pequeno-almoço da pousada. Maravilha, virada para o Adriático cheio de adolescentes com borbulhas. Que mais se pode pedir?
Bem abandonamos rapidamente a pousada da Juventude e seguimos em direcção ao centro de Pula.
Uma cidade com uma longa história, que remonta aos tempos do império romano, tendo permanecido sob a custódia de Roma até ao Século 20, tendo sido incluída na antiga Jugoslávia. O Tito sabia o que fazia.
Pula aconselha-se pelo seu belo anfiteatro romano, com capacidade para albergar 25.000 espectadores. Este era um anfiteatro dedicado aos gladiadores. É imponente pelo seu tamanho e bom estado de conservação.
Uma volta rápida pela cidade, porque pagar 20 kunas (3 €) por uma hora de estacionamento não compensa.
Perto de Pula há algumas praias boas para se visitar. O azul do mar é a primeira coisa que se retém. As ilhas espalhadas ao longo da costa, tantas e tão perto que quase lhe chegas com o dedo. Os barcos à vela também preenchem o nosso horizonte. Vontade de mergulhar.

Lição número 1: leva uma colchonete se quiseres fazer praia na Croácia. As praias de calhau rolado calcário ferem as costas…
Lição número 2: não te deixes entusiasmar pela primeira praia que vês: a seguinte é muito melhor.
Lição n.º 3: leva uns chinelos para a água que não te saiam dos pés (esta é para a Parceira que faltou este ano).
Após uma conturbada hora de praia, entre frio e calor, banho de água quase gélida e etc, decidimos que era hora de darmos outro rumo à nossa vida.
Ora, lendo o guia tudo indicava que Labin e Radan eram bons destinos finais. O conselho para fazer a pé os km que separam estas duas cidades é que não era tão aliciante.
Bom, lá fomos nós. Radan primeiro: o mar, que mar! Transparente como os do meu avô.
Uma baía de pedras brancas, com pequenos restaurantes a ocupar a marginal.
Entretanto começou a chover. Abrigámo-nos para o café.
Daí partimos para Labin: parece uma cidade museu. Nas paredes há inúmeras inscrições que nos lembram que estamos numa terra de resistentes ao fascismo italiano. Por todo o lado aparecem as estrelas socialistas a indicar que a casa foi habitada por um membro do partido comunista ou por um resistente ao Duce. Muitos morreram jovens, a prová-lo está o conjunto de estátuas que ladeiam as muralhas.
Muitas das coisas estão escritas em Italiano ainda, conseguindo assim o comum dos mortais de língua latina interpretar o que está escrito.
Labin é uma cidade encantadora, parece saída de um conto de fadas. Em pano de fundo ouvem-se as crianças a ensaiar as músicas. Parece haver muito por trás destas paredes seculares.
Depois de explorar Labin, decidimos retomar a cruzada para Sul. O local mais provável era Rijeka ou perto, Opatjia. Optámos pela segunda. Uma cidade com tons neo-clássicos. Parecia o Estoril!
Ficámos num aparthotel agradável, mas caro (60 €/noite sem pequeno almoço). Em Opatjia fizemos a melhor refeição de toda a viagem. Recomenda-se o restaurante Hemingway que fica do outro lado (mesmo do outro lado) da cidade, junto da marina. É um local reservado, mas com uma cozinha chique. Embora tenhamos comido frango (tal como ao almoço), mas comemos com classe.
É sexta à noite: o que se faz na Croácia??? Nada, pelo menos em Opatjia. Parece que o mau tempo fez com que todos se recolhessem aos aposentos. Embora com fama de boa animação nocturna, só vimos uns bares mal amanhados com turistas de fundo de garrafa e um bar de karaoke, num imponente hotel lá do sítio. Abba??? Nem pensar. Fomos para casa dormir.


terça-feira, 13 de outubro de 2009

interlude

Noutro dia tive mais uma sensação deja vu.
Enquanto circulava por uma via bem iluminada numa periferia de Luanda que não é África, ouvia um programa de rádio.
Primeiro os acordes soaram baixinhos e no meu bau musical começou-se a desenhar um perfil. Ainda ténues sabia de onde vinham aqueles sons, depressa identifiquei a canção enquanto me lembrava de sorrir.
Ouvindo Darklands, dos Jesus and Mary Chain, ia passando ao lado de toda a miséria que faz por acompanhar o trajecto, quando os limites da outra Luanda terminam.
Um fiozinho de lembrança que me fez recordar quando era adolescente

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Dia 1
Ainda sobre o dia n.º 1: rapidamente nos apercebemos que dia 09/09/09 só poderia ser um bom presságio… conseguimos o carro e um sítio para dormir em França, numa terra adorável.
Depois disso o que poderia acontecer no dia 2?

O dia 2 começa no dia 10/09/2009
Acordamos cedo, mas não tão cedo, para aproveitarmos bem o dia.
Como continuávamos sem ter olhado para o Guia turístico, só sabíamos que tínhamos que ir em direcção a Itália.
Mapa: não tínhamos. E nem pensar em gastar dinheiro nesse supérfluo bem . Apenas na bagagem uma impressão do Via Michelin de Marselha para Veneza e de Veneza para Dubrovnik.
A certeza de um caminho não é tudo na vida, pois não? Então há que rumar em direcção ao país vizinho.
Para chegarmos à Croácia teríamos ainda que atravessar o que restava de França, Itália, Eslovénia e só depois Croácia.
Então, as duas turistas já com um cd no carro, embarcaram na estrada de ligação.
O trajecto inicial é simples: segue-se para Milão. Do lado direito só se vê mar e um enorme número de povoações incrustadas nas Rochas. Os túneis multiplicam-se e estava na altura de começarmos a ouvir Archade Fire, com TUNELS em stereo.
AS mulheres param em quase todas as estações de serviço, seja ele qual for o objectivo: tomar café, fumar um cigarro ou ir à casa-de-banho… enfim há sempre um bom motivo.
Depois o trajecto complica-se e complica-se ainda mais se o co-piloto estiver distraído: aí em vez de ires para Veneza podes ir parar a Milão!
Sem stress, parámos numa estação de serviço para ver o mapa e logo nos apercebemos que estávamos a km de distância da rota inicialmente traçada. Sem makas… Estávamos de férias afinal…
Fomos indo, fomos indo e quando reparámos estávamos já a entrar na Eslovénia. Aí acho que olhámos para o guia e decidimos ficar na Ístria. Parecia-nos um bom destino com praias bonitas, parques nacionais, Ilhas e ruínas romanas em todo o lado.Mas deixem-me falar primeiro da Eslovénia: acreditam que eles aparam a relva das bermas da estrada? Está tudo perfeitamente limpo e verde. Não há relance de floresta queimada, apenas km e km de florestas onde, apesar de as estradas parecerem as de Trás-os-Montes, circulam os turistas e ninguém parece preocupado com o estado das estradas, nem a tentar inventar uma fórmula que prove que as estradas trazem desenvolvimento…
Mas continuando: chegando à Croácia: controlo de passaportes.
Aqui deixo um espaço para a minha lembrança de há 10 anos atrás, quando num comboio que seguia de Budapeste para Veneza parámos não sei quantas vezes com “passport control! Anissing to declare?”
Bom, memórias à parte, entrámos na Ístria. A paisagem muda e de faço parece que os países são feitos não só da sua língua mas também dos seus montes e vales, praias e lagos… tudo é diferente.
Aqui tenham atenção: há vários caminhos para chegar a Pula, uma antiga cidade romana e uma das principais da península. Evitem o que vos leva pelo túnel (que tem uma extensão incabável) e que custa a módica quantia de 4 € só para atravessar. Para além de achar que por fora seria mais bonito.
Descemos em direcção a Pula, que fica mesmo cá em baixo na ponta da península. Aí recomeçámos a nossa luta de encontrar um lugar para dormir. O Croata não é uma língua acessível por isso perceberes o que está escrito nas placas às vezes tornasse complicado. Às voltas e mais voltas encontrámos uma placa que dizia: youth Hostel.
Ora nem mais, olhámos uma para a outra e pensámos: ainda escapamos… e assim foi, no meio do nada encontrámos o nosso lugar de repouso.
Uma pousada da juventude! Partilhámos o quarto (beliches) com 2 jovens inglesas que pareciam interrogar-se sobre a nossa presença.
A casa de banho era mista. Digamos que com esta idade já não estamos para essas aventuras, mas por 17 €/ cada com pequeno-almoço, não podíamos reclamar muito.
Dormir barato tem as vicissitudes de não dormires porque uma das catraias rangia os dentes como se o mundo fosse acabar e a nossa salvação dependesse disso. Alguns anos a ouvir ranger dentes permitiram-me desenvolver uma técnica eficaz que demove o mais destemido rangedor profissional.
Avançando para o jantar: Embora vos digam que na Ístria se come um maravilhoso marisco e peixe com abundância, para além de um delicioso risoto não acreditem.
Todos os pratos são tipo combinados e a comida parece a dos nossos snack bars, mas menos saborosa e bem confeccionada. Há gente que não sabe o que é boa mesa neste mundo.
Mas em frente, amanhã viria um novo dia.







domingo, 4 de outubro de 2009

Dia 1

Dia 9 de Setembro. 6:00, chamamos um táxi para nos levar ao aeroporto.
São 6:00 e ainda é noite, acho deliciosos estes pequenos pormenores que fazem a diferença.
No dia anterior ainda tentámos olhar para um guia turístico, mas sem sucesso alcançado.
Mais uma vez abandonavamo-nos à aventura.
Voltando, às 6:00 saíamos de casa para apanhar um vôo da Ryan air que nos deixase em Marselha, para daí seguirmos rumo à Croácia.
Não vou descrever os voos da Ryan Air, nem o frio que se sente dentro do avião...Tanto que acordei a meio da viagem.
Chegadas ao aeoporto de Marselha, sem sobressaltos e com as malas, há que começar a procurar um carro.
Batemos a várias portas, e todas estavam fechadas: não havia carros em Marselha para alugar. Sabem como é, há muito turismo. O denânimo começava a estampar-se nas nossas faces e era evidente que não queríamos passar as férias em Marselha.
Quando estavamos prontas a desistir, batemos a mais uma porta que nos disse:
- temos carro para amanhã de certeza, mas liguem mais tarde. pode ser que tenhamos ainda hoje um carro para vocês.
A medo perguntámos, no nosso francês desenterrado do baú, se podíamos ir para a Croácia...
Fechamos os olhos e cruzámos os dedo: podemos claro.
Sem mais nada que fazer, enquanto aguardavamos para fazer o tal telefonema, fomos passear até Marselha.
Nada de especial, não obstante a sua imensa marina plena de barcos de recreio.
Eram 16:00 quando ligámos, sem qualquer esperança para a agênica. Tínhamos carro às 17!
nem queriamos acreditar. Corremos a apanhar o primeiro autocarro que nos levasse dali para o aeroporto.
Levantámos o carro...um sorriso transformou as nossas fontes. Pusemos as malas na bagageira e partimos em direcção à fronteira.
Agora tinhamos finalmente uma rota definida...
A meio do caminho ficámos numa pequena localidade chamada Cagnes sur Mer, que tem um lindo burgo Medieval (Haut sur Cagnes).
A sorte bafejava-nos agora: arranjámos um totel para dormir por 57 €/ quarto.
Estava tudo a correr lindamente.
E amanhã? Logo o veremos

sábado, 3 de outubro de 2009

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Uma aventura na Croácia

Isro é uma história verídica. Poderá eventualmente ferir algumas susceptibilidades. As semelhanças com a realidade são poucas. Aconselha-se a não abusar na leitura.
Quando eu era pequenina os meus tios foram à Jugoslávia.
Os primeiros foram de carro, com um atrelado e vontade de ver o que havia nos países não alinhados.
Depois, ainda tornaram a partir, mas outros e de comboio, à procura também das suas aventuras.
Passados 20 anos, depois da dissolução da Jugoslávia e de uma guerra civil que durou demasiados anos, e motivada por uma nova pandemia que me fez abandonar a ideia de atravessar o Atlântico, foi a vez da sobrinha se aventurar até ao Adriático.
De facto a Croácia é tudo aquilo que dizem ser, vale a pena ser vista.
Vou tentar aqui ir fazendo uma resenha dos 12 dias que passei a descer a Croácia desde a Hístria até Dubrovnik.
Aqui vai.

Dia -4 até ao 0: Poderíamos até remeter até longos períodos antes. A marcação da viagem.
O destino era conhecido: Dubrovnik.
O ponto de partida… ainda não. Tanto poderíamos ir de carro desde o Porto, como de Marselha, Zagreb ou Split. O ponto de partida foi definido por quem tem medo de andar de avião: Marselha.
O objectivo: alugar carro e fazer largos km. Tudo bem, aqui vamos nós.
Mas momentos antes, lembrei-me: será que podemos ir até à Croácia com um carro alugado na EU? Parece que sim, bastava pagar um seguro.
No dia -4: ao aterrar no Porto, tenho uma mensagem: liga-me! Não podemos ir com um carro francês para a Croácia. Aqui a situação assumia contornos caóticos, mas ao menos tínhamos um guia.
Não há problema, alugamos carro em França e vamos até Itália e de Itália aluga-se outro carro para a Croácia.
No dia 0 recebo um telefonema a perguntar se efectivamente pretendo alugar o carro, pele módica quantia de 150 € mais o simbólico valor de 300 € para transportar o carro de Milão até França.
Tudo parecia que a viagem estava destinada ao fracasso… mas para mais informações há que ver os próximos episódios.