Sempre ouvi o meu pai dizer que se houvesse um paraíso na terra, este seria São Tomé e Príncipe.
Quando somos novos tendemos a menosprezar o que os nossos pais nos dizem.
Quando cresci apercebi-me que não vou para o Paraíso quando morrer, por vários motivos alheios a esta conversa, e assim decidi que iria procurá-lo em vida.
Agora que a idade me deu a oportunidade de dar uma oportunidade aos meus pais, decidi ir a São Tome e Príncipe já que era aqui ao lado e tinha amigos disponíveis.
Mais uma vez não tive tempo de preparar a viagem, mas não há nada que um guia e uns amigos no local não resolvam.
E assim foi, parti a São Tomé e Príncipie no dia 6 de Novembro de 2011, em busca do último reduto de paraíso na Terra.
A chegada a São Tomé é deliciosa, de repente o azul do mar passa a ser turqueza e de repente suspende-se a respiração e é um encantamento total.
A aterragem não é pacífica, mas longe dos relatos infernais do século passado.
Chegando em Novembro ainda não se faz sentir o impacto do calor e da humidade e o ambiente está muito agradável.
O primeiro que salta à vista é o azul, rectificando, os vários azuis. Há azul turqueza, azul água, azul céu, azul escuro, azul-esverdeado, azul acinzentado.
Depois as nuvens, ora cinzentas ora brancas, sempre a ocupar todo o espaço livre. o que resta, fica a cargo da humidade...
São Tomé e Príncipe impressiona e arrepia.
Arrepia o silêncio das noites nas roças sem electricidade (obrigada sr. Januário da Roça de Belo Monte) que nos proporcionou um quarto na sua fazenda e um belo pequeno almoço.
Nas Roças, é preciso avisar com antendência a chegada. Os recursos são parcos e o gerador mantém-se desligado bem como o gás do fogão, a não ser que anunciem a chegada.
O cheiro de café que atordoa o ar durante a noite nas fazendas iluminadas pelas estrelas.
Antes de chegarem a Belo Monte, recomenda-se um pit stop em Neves para uma Santola. O lugar tem o mesmo nome, mas não é bem um restaurante... é mais um tasco, com renome mundial, mas um tasco.
A Santola é o prato do dia e tem que ser acompanhada pela Sorema de 600ml. Os resultados podem ser catastróficos, mas o bem que sabe!
A recompensa dos audazes! um prato de santolas.
Na mesma rota, antes de chegar a Neves, passa-se pela Praia Azul. água faz jus ao nome. Imagine-se que parece a Irlanda, mas com Embondeiros.
A Aventura pelo interior da Ilha vale a pena. entre curvas e contra curvas e caminhos de cabra mais ou menos apertados, acabámos por chegar ao Parque Nacional do Obo. Não acredito que muitos turistas consigas fazer este percurso, o qual só fizemos pela persistência do nosso homem e porque em vez de encontrar uma queda de água, encontrámos uma estação de tratamento de água. Uma coisa levou a outra e um túnel cheio de morcegos demoveu-nos de chegar mais longe. Não me perguntei por onde fui, só sei que não fui por aí... Por entre veredas.
Agora o Príncipe.
Se São Tomé é deslumbrante, o Príncipe assusta. É como São Tomé mas em estado bruto. Segundo o Guia Santo António é a mais pequena cidade do mundo digna desse nome. A Ilha é minuscula e apenas o Ilheu Bombom parece atrair turistas.
Mas uma visita à Fazenda Sundy e à praia Banana já pagam esta viagem e claro, os mil e um sorrisos das crianças.
Em Santo António conhecemos um casal Sul Africano que se encontra neste remonto lugar do mundo a ensinar inglês às criançsa Santomenses. Qual a finalidade, interrogo-me quando vejo que nem salas de aula têm, nem quase nada do que consideramos básico.
Pelo turismo e porque um excêntrico milionário comprou quase tudo neste pequeno paraíso terreno para direccionar a ilha para o turismo.
Das salas de aula ficou-me a saudade da escola primária. Olhei e vi as minha carteira.
De Príncipe, fica também a chuva, que molha tolos e os outros também e quase não deixa levantar o avião que nos levaria para São Tomé.
De São Tomé e Príncipe, fica uma vontade de volta para as coisas da terra, os sabores do peixe, os "mosquitos" no arroz, as folhas de micóco (Acho que é assim), o cacau, a banana, a fruta pão, os sorrisos e a certeza que com muito, mas muito pouco se pode fazer um mundo melhor. Todos os dias!
Em São Tomé seria bom olhar para o futuro...
Resta-me dizer: querido pai, tinhas razão!