O que aprendi? Que há países onde o património Natural e Cultural não é espoliado. Tudo é provido de valor e tudo tem um preço, depende se estás ou não disposto a pagá-lo. O escândalo de ter que pagar para passear numas muralhas que são património da Humanidade, ou para entrar num Parque Nacional não me deixou fechar a boca. Imaginem-se a ter que pagar para entrar no Centro do Porto ou no Parque Nacional do Gerês! É exactamente a mesma coisa.
Aprendemos também que manter a fachada é algo que se desenvolve: fachada de que vivemos numa sociedade equalitária, que vivemos numa feliz democracia, que os estados são laicos, que a qualidade de vida na velhice é uma garantia, que os direitos são iguais para todos
Numa primeira impressão a Croácia é um país extremamente organizado, onde a população vive com qualidade de vida, bons carros e boas casas, quando se arranha algo mais que a superfície, começa-se a ver que não é bem como aparenta.
Uma das coisas que mais me impressionou foi o facto de não haver pedintes, não haver pobres, não haver um estrato baixo da sociedade… Inverosímil, parece-me antes uma paz podre, uma falsa calmaria antes da tempestade. Não é possível que num país onde o salário mínimo é de 200 € e o custo de vida seja idêntico ao de Portugal as pessoas consigam sobreviver. Talvez seja uma herança do Tito, esta que as pessoas mantenham a sua dignidade.
Outra das coisas que aprendi é que é bom ser um cidadão do Mundo, desde que pagues os impostos que contribuam para que possas ter uma reforma. É bom ser mente aberta e calcorrear os 4 cantos do Mundo, falar diversas línguas e ter teorias desenvolvidas e patenteadas, desde que aos 80 anos consigas ter o que comer na mesa. É bom ser-se jovem ou velho, não importa a idade, e ir atrás do amor da tua vida, mas não chegar aos 55 anos e pensar que os filhos se esqueceram de quem nós somos. Tudo isto aprendi com uma família singular: ele Croata, um livre-pensador formado em Cambridge que se apaixonou pela Venezuela, e ela uma Venezuelana que abandonou a Venezuela, a família, e que pinta e trata de outros para que nunca falte uma migalha de pão numa casa onde nunca se sabe se vai haver dinheiro para a próxima renda.
Em suma, vale a pena ficar assolado com a magnitude de Split (linda de morrer!), com o dourado de Dubrovnik, com o verdejante das ilhas e o azul cristalino do Mar Adriático.
Vale a pena ir a Mostar e ver de que forma as guerras mudam as cidades e as vidas. As diferenças culturais são evidentes entre a Bósnia Herzegovina e a Croácia. NA Bósnia encontrei algumas recordações da infância: umas chanatas de lã, umas t-shirts com a cara do Tito, os bivaques dos Cossacos, os casacos do exército vermelho… para onde me voltava encontrava algo que me recordava uma infância. Via ponte de Mostar, aquela que foi destruída por uma guerra estúpida e reconstruída novamente. Vi uma cidade que em muito me fez lembrar o Huambo.
Prédios carcomidos pelas balas, tectos destruídos pelas bombas e acima de tudo o espelho da guerra nos olhos das pessoas. O futuro? Qual será ele para uma cidade também Património da Humanidade (mas aqui não pagas para poder passar a ponte)?
Nesta viagem foi possível ver que nem sempre separarmo-nos faz com que fiquemos ou sejamos melhores. Não significa que sejamos mais produtivos e mais inteligentes. De facto apenas significa que perdemos muito em sermos apenas actos isolados e não um grande NÓS!
Em suma, vale a pena ir à antiga República da Jugoslávia, ver as assimetrias, encontrar gente saída do underground ou do Gato preto, Gato Branco… (esta foi uma das melhores partes – dar nomes às pessoas de acordo com as suas semelhanças cinematográfica e baptizar com nomes de filmes as situações mais caricatas), ver o que a solidão faz às pessoas e que estar à beira da morte nos faz pisar o limite da decência humana.
Wellcome to Croatia, have a nice holliday!