sábado, 14 de novembro de 2009

Nos últimos meses tenho tido a oportunidade de viajar de carro por quase todo o território nacional. Desde que regressei de férias estive no Kuando Kubango, em Benguela, na Huíla, no Cunene, no Zaíre, em Luanda, no Bengo, Kwanza Norte, Kwanza Sul, Huambo, Uíge e Bié. Estão em falta as Lundas, Cabinda, Namibe e o Moxico. Tudo isto se traduz em muitos km de carro, em muitos algarismos seguidos, furos nos pneus, pés na lama, entre outras tantas desventuras.
Calcorreei estas estradas e picadas de norte a sul, fiz milhares de quilómetros por locais onde nunca pensei poder passar, vi coisas assombrosas (tanto pela positiva, como pela negativa).
Se as paisagens te absorvem num frenesi de cores, tonalidades, cheiros e sensações indescritíveis, também as negativas te marcam bem fundo na pele, como se te estivessem a marcar com ferro em brasa.
Atravessei Províncias onde não há uma única estrada pavimentada, mas onde a arrogância do petróleo prevalece, como se adiantasse alguma coisa ao facto de haver milhares de km de estradas por fazer, pessoas subnutridas, subdesenvolvidas, onde não há água, onde não há escolas ou centros de saúde. Onde para chegares quase precisas de um barco! Locais onde ao lado de uma instalação industrial vivem povos nómadas que se alimentam dos restos. Restos espalhados por toda a parte, numa imensidão de terreno. Terrenos que eram seus, onde montavam as cabanas e punham o gado a pastar, onde passavam para ficar no Verão chuvoso ou para dar de beber ao gado no Inverno seco. Pensar que há pessoas que vivem num estado de miséria tal que nos é impensável imaginar que se pode viver assim. O que fazer num mundo em globalização? Manter as tradições, ou fazer com que as crianças vão à escola, aprendam, cresçam e se tornem mais do que alguma vez poderão vir a ser a roer os ossos que nós deitámos fora?
Manter as tradições nómadas, as roupas, os penteados, os costumes, as línguas, ou dar a oportunidade de nos tornarmos iguais?
É este o principal choque de uma sociedade “moderna”. Um país em transformação, alguns dirão.
É por isso que afirmo que estou zangada com este país. Este país que tem tanto para oferecer, mas que o faz a tão poucos. Zangada porque o sonho de muitos desvaneceu-se numa fila do socialismo esquemático…
Só me resta dizer: Vamos fazer mais como então?

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