sexta-feira, 2 de março de 2018

Recentemente visitei o Rwanda e a República Democrática do Congo.
Já vejo corações a palpitar e também já sei, foi uma irresponsabilidade. Dizem todos o mesmo. O Congo é um país em conflito, tem milhares de migrantes internos e para os países contíguos, não se conseguem distinguir os milicianos dos rangers do Parque Nacional de Virunga ou dos outros militares, etc. etc..
O Congo é um dos países mais ricos do mundo, vetado a uma pobreza extrema. Um contrasenso total.
Milhares de crianças povoam as ruas de Goma, na região do Kivo na fronteira com o Rwanda, num cenário que me fez lembrar em tudo Angola: bagunça, sujidade, lojas que vendem tudo, motas por todo o lado, pessoas em todo o lado. A única diferença é a forte presença das Nações Unidas , onde um contingente de 18.300 capacetes azuis se faz notar a cada esquina.
O parque nacional  de Virunga é aparentemente seguro e tranquilo, ou talvez seja a doçura dos Gorilas e a assombro de olhar para um vulcão activo que nos fazem esquecer os riscos a que estamos sujeitos em tal ambiente. Nas estradas essa sensação dissipa-se, há barricadas em todas as vilas com postos de controlo, és acompanhado por um ranger armado durante todo o percurso e precisas de autorização para atravessar os postos de controlo, milhares de pessoas vestidas com fardas militares, capacetes azuis a cruzarem a alta velocidade e helicópteros a sobrevoarem o parque. Se a experiência value a pena? Sim, valeu, principalmente se pensar que provavelmente quando os meus filhos tiverem idade para visitar o PNV já não haverá gorilas de montanha.
Bom adiante, tudo isto para falar sobre os clichés de África.
O choque.
Houve duas coisas que me chocaram nesta viagem, profundamente devo dizê-lo. O primeiro foi o museu do genocídio em Kigali, que relata ponto por ponto, cronologicamente, as raizes do genocídio e a sua perpretação. É angustiante ver a origem da natureza humana e pensar que realmente somos feitos de ódio. No fundo, somos todos bons, mas fervilhando em ódio. Só precisamos de um motive para deixar escapar cá para fora a nossa verdadeira essência. Estima-se que cerca de 1.000.000 de pessoas tenham sido chacinadas (usando entre outras catanas, machados e outras armas rudimentares), 2.000.000 de mobilizados nos países contíguos e cerca de 500.000 órfãos. Os relatos são na primeira pessoa e são devastadores. Houve delações de amigos, vizinhos, familiares e participação dos mesmos no genocídio. Não sei como se sobrevive a isto. Tu mataste o meu filho, tu delataste-nos, fiquei órfão, perdi tudo na vida. Como diz a música, it could be me, it could be you.
O mais inquietante é pensar que a paz actual poderá ser a prazo. Não se sabe quando, mas poderá ter um prazo.
A outra coisa que me chocou foi a percepção, nua e crua, do que significa alteração do uso do solo e desflorestação. O Rwanda, um país verde e magnífico, não tem um 1cm2 de área florestal, além dos Parques Nacionais e alguns polímeros, adivinhe-se, de eucaliptos. Toda a área está ocupada pelas populações para habitação e agricultura. É um choque brutal! montanhas inteiras ocupadas com casas, plantações de chá, pequenas hortas comunitárias e familiares. Nem um macaco nos interstícios. Aí entendi o que significa excesso de população e que é claramente o que esta a destruir o nosso planeta. É um cenário devastador, fiquei boquiaberta com tal.
Tudo isto serve para dizer que acho que temos que começar a investir no controlo populacional. O Rwanda é do tamanho do Alentejo e tem 10.000.000 de habitantes, a Tanzânia tem mais de 52,482,726 de habitantes (estimativa 2016), and so on and so forth... Aqui se vê que o nosso problema é excesso de gente no mundo. A Terra é um espaço limitado, não há espaço para todos, sobretudo não há recursos para todos. O maior problema associado a este crescimento exacerbado da população encontra-se relacionado com o facto de este ter lugar nos ditos países em desenvolvimento, onde não há orçamento para saúde, educação, planeamento familiar, apoio à maternidade, nem emprego. Estes países, em poucos anos, serão insustentáveis. O que vai acontecer às pessoas? o que nos vai acontecer a todos?
Um pedido só: quando assinam acordos, por favor cumpram-nos. Pode ser que nos salvemos da extinção.
Entretanto, também podemos tentar salvar estes bichos fofinhos chamados gorilas de montanha. Vá lá, se não se interessam pelo bicho homem pelo menos façam algo por este.







1 comentário:

Unknown disse...

Olá. Enquanto vasculhava os emails antigos, entre a mudança de um smartphone para outro, descobri este teu texto. Embora com quase 2 anos de atraso, senti-me na obrigação de o comentar. Não sei se mais alguém o viu mas pelo menos eu fiquei sensibilizado com as tuas palavras. Houve um parágrafo em particular que descreve na perfeição a sociedade em que vivemos "É angustiante ver a origem da natureza humana e pensar que realmente somos feitos de ódio. No fundo, somos todos bons, mas fervilhando em ódio. Só precisamos de um motivo para deixar escapar cá para fora a nossa verdadeira essência." É válido para o Congo, para o Ruanda e para todos os lugares do mundo em que vivemos. Resta-nos acreditar que, enquanto houverem pessoas capazes de identificar e falar sobre esta calamidade social ainda possa existir um pouco de esperança para o mundo.Obrigado e muitas felicidades.
Os verdadeiros amigos são eternos.