As listas sempre me fascinaram, desde miúda.
Faço listas para tudo: compras, aniversários, multas para
festas, coisas que faltam para casa… Qualquer pretexto é bom para fazer uma
lista. Mas à moda antiga: num papel, nada de listas em aplicações nos
telemóveis. O papel e a caneta/ lápis ainda têm aquela magia especial que me
remete para outro espaço e tempo. É verdade que as listas me transportam.
O meu filho do meio parece ter a mesma compulsão que eu.
Desde que estamos em quarentena faz um rol de pedidos diários. Alguns
repetem-se, acho que os quer mesmo, como a máscara de tigre de dentes de sabre
ou o ovo Kinder especial com não sei o quê lá dentro, mais o escorrega que
transforma meninos em animais diferentes… E eu vou escrevendo tudo.
Um jogo engraçado que costumava brincar com a Dri era: “se
te casares convidas-me?” E eu fazia a lista mental de todas as pessoas que
convidaria para o meu casamento, na distante eventualidade de tal acontecer. E
assim nos divertíamos a selar amizades com listas.
Enquanto lia “um homem de partes”, de David Lodge, em que se
retrata a vida de H. G. Wells, o “maior escritor do seu tempo”, vi que H. G.
Wells era obcecado por Obituários, queria saber o que diriam dele depois de
morto. Este facto remeteu-me para uma lista que nunca acabava (que fazia
sozinha) sobre: “se eu morresse quem iria ao meu funeral”.
Para a Dri o importante era saber quem estaria presente em
vida, mas eu tal como o H.G. sempre me interessei mais por quem está lá quando nós
não. Quem virá, sem precisar de ser visto. O que dirão de nós, quando já não
podemos escutar.
Com a epidemia as listas continuam a acumular-se: número de
pessoas infectadas, pessoas internadas, pessoas em estado crítico, número de
mortes. Estas listas parecem-me intermináveis e pela primeira vez na vida,
completamente desnecessárias. O esforço de achatamento da curva de repente tornou-se chato.
Prefiro continuar a fazer as listas do meu filho, com o seu
papa-formigas e o fato especial com bico azul de pato que faz coisas assim.
Essas sim, são especiais e fazem-me sentir que tenho um fiel seguidor.
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