quinta-feira, 27 de março de 2008

Proxima estación: Namibe!

Férias da Páscoa costumam ser sinónimo de leitão, alheiras, posta à Mirandesa, e descanso, muito descanso no escano ao pé da lareira. Umas torradinhas de pão de centeio e um pedaço de folar com um café, costumam encher-me as medidas.
Correndo o risco de me tornar repetitiva, este ano, como em tudo o resto, a Páscoa teve um sabor diferente. Este ano a Páscoa foi desértica. Uma viagem até ao Namibe, na companhia de alguns amigos.
A viagem demora apenas 14 horas, para percorrer 720 km, entre picadas, pontes meias em pé, rios que passam por cima de montes de granito, rios de lama e um número infindável de poças de água.

Passados 525 km chegamos ao Lubango, a Capital da Huíla. A cidade é lindíssima e mantém o seu tom original, uma vez que não foi afectada pela guerra. Os cafés e serviços florescem nesta cidade. Infelizmente chegámos já de noite, não sem antes ter avistado um pôr-do-sol magnífico, como só África sabe fazer!

Daqui rumámos em direcção ao Namibe. A emblemática Serra da Leba era o próximo desafio. Nem imaginam o desafio em que se tornou! Estava coberta por um manto de nevoeiro que impossibilitava a visibilidade. A descida foi assustadora, sem ver um palmo à frente do nariz. Mas lá descemos, a uma média de 30 km/h e umas tangentes às valetas… Nada que a super Nádia não conseguisse controlar. Não era uma estradeca de montanha, completamente enublada, que me ia desmotivar.
Lá chegámos à cidade do Namibe, às 22:00, estourados e com o estômago colado às costas, mas chegámos vitoriosos.
Embora o Namibe seja sumamente reconhecido pelos seus caranguejos, comemos um típico pica-pau com umas cervejitas a companhar.
No dia seguinte há que rumar em direcção ao deserto.
Foi das paisagens mais deslumbrantes que vi até hoje.

Ainda por cima o deserto estava completamente verde, devido às fortes chuvas que caíram em Março.
Fomos em direcção ao Arco, que é um Oásis que fica a 70 km da cidade do Namibe. Aí a Paisagem muda de tom. Primeiro, à medida que íamos entrando no coração do deserto começa a ficar amarela, para logo a seguir assumir um tom verdejante, sinónimo de vida.
É incrível. Um manto de água enorme abraçava a paisagem em todo o horizonte.
O mais engraçado foi ter que descobrir um caminho de acesso até ao Arco. Choveu tanto que o caminho normal estava completamente inundado. Lá fomos nós, montanha acima, montanha abaixo, por caminhos nunca antes navegados, até chegar ao Arco.
Maravilhoso!


Depois no regresso, parámos para a foto da praxe com as welwitchia mirabilis, planta que só existe aqui, no deserto do Namibe.
A próxima paragem foi a praia da escadinhas, onde nos deliciámos com uns Caranguejos do Namibe e um peixinho na brasa, claro acompanhados por umas Cucas e N’golas.

Depois é preciso voltar! O regresso foi deveras interessante: desconseguimos de ver a Serra da Leba, por causa do cerrado nevoeiro, demorámos outras 14 horas no regresso e como se isso não bastasse, demos com uma árvore a cortar o caminho de regresso.
Que sensação de deja vú!
Não chegavam os buracos e o cansaço. Tinha que haver um outro obstáculo à normal circulação. Ainda bem que estávamos prevenidos com uma pá, só assim conseguimos chegar ao Huambo, senão eu tinha ficado a dormir ali mesmo até que removessem a %#”@=! da árvore do meio da estrada!
Fica a promessa de regressar.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Para Reflexão

"Metade da humanidade não come; e a outra metade não dorme, com medo da que não come".

Josué de Castro.

terça-feira, 11 de março de 2008

De Cabinda ao Cunene!

A vida em África tem destas nuances. Tudo aqui é um cliché!
Todas as imagens que nos foram incutidas durante a nossa vida, realmente acontecem. Não sabes às vezes destrinçar a realidade de um qualquer documentário do National Geographic.
Este fim-de-semana, fui trabalhar para um lugar recôndito em Angola, ao Cunene. Como diz o povo, de Cabinda ao Cunene, um só povo uma só Nação!
Aqui podes encontrar de tudo, desde paz de espírito, a animais selvagens e insectos de dimensões inacreditáveis… Claro que não faltava nem o belo do púcaro, para tomar banho!
Mas enfim, trabalho é trabalho, e há que ultrapassar as vicissitudes da vida, com um sorriso nos lábios.
Como podem verificar, tudo o que viram em documentários, mais ou menos fidedignos, é realmente verdade. Ora vejamos as imagens.

Assustador, não! Agora imaginem isto no vosso quarto de banho!
De qualquer forma, o cansaço persegue-nos, mesmo quando julgamos estar a milhas de distância de um qualquer problema de expressão!
Chegada a casa, no Domingo à tarde, há que rever os compinchas e felicitar aniversariantes. Os amigos não se esqueceram de mim e guardaram-me uma fatia de “pie de limão” para me acalentar o estômago e relembrar que é bom voltar a casa.

Porra de Vida!

Há dias que realmente mais vale riscar do calendário.
Como se não chegasse o guarda ter passado a noite a ouvir os deliciosos toques do seu telemóvel, até a minha vizinha de quarto se chatear às 4 da manhã, e não ter conseguido dormir porque há sempre alguém que resolve ligar à 1 da manhã, acordo e mais uma vez o chuveiro estava seco!
Digam-me se isto não é mesmo karma? Só pode.
Depois de ter dito um rio de palavrões (#$#""&%@£§), de ter enfiado uma roupa no corpo e ter ido para a cozinha a rezar para que ninguém quisesse conversar comigo às 6:50, descobri que a torneira tinha ficado aberta toda a noite.
O desgraçado do guarda, para além de gostar de um bom som, também gosta de tomar banho....
Eis que às 9:00 aparece o camião da água, e pensei com os meus botões "vou regressar à vida". Ao abrir a torneira deparo-me com um fluido castanho, com partículas em suspensão, que alguns teimam em apelidar de água. Mas meus caros, isso só num dia muito mau.
Mesmo assim, arrisquei-me na aventura e entrei para a banheira.
Resumindo, fiquei cheia de coisas pretas em todo o corpo, uma comichão que ainda não abrandou, passadas 5 horas do famigerado banho, e ganhei um chuveiro entupido!

Que mais falta acontecer hoje? Digo-vos que absolutamente nada.
A única coisa que correu bem foi uma oferta de um bilhete de avião, com um convite para uma fatia de bolo.

Não querendo estar sempre a parafrasear o Sérgio mas "Há dias de manhã, em que um homem à tarde, não pode sair à noite, nem voltar de madrugada..."

Ainda falam das leis de Murphy, deviam começar a falar das leis de Nádia, isso sim!

quinta-feira, 6 de março de 2008

Hasta Siempre

Fidel Castro é uma das figuras incontornáveis da nossa história. Desde sempre nos acompanhou a par e passo, durante a nossa hora de jantar.
Há quem não goste dele, há quem goste. As opiniões são assim, não precisam de ser todas iguais.
A verdade é que pensei que ele seria um daqueles homens que iria durar para sempre. Desde os tempos de Sierra Maestra, até os dias correntes, ainda que nos últimos tempos se apresentasse doente e fragilizado, Fidel Castro foi uma figura omnipresente e coerente. Fidel Castro será sempre “El Comandante”, mesmo para os seus opositores!
Recordo-me da sua figura, há 10 anos atrás, falando para um público jovem e ao rubro, com uma oratória invejável, discorrendo durante horas sobre economia Mundial, história, religião, política… Durante horas ninguém arredou pé, assoberbada estava a plateia com tal figura.
Foi com choque que colhi a notícia da sua renúncia. Era algo inevitável, mas ao mesmo tempo inesperado. Era suposto “El Comandante” durar para sempre. A marca que deixará no Mundo não será certamente indelével.
De entre as suas frases mais célebres seleccionei uma, que acho que é realmente impressionante, principalmente estando aqui em Angola

“Esta noite milhões de crianças dormirão na rua, mas nenhuma delas é cubana”.
Só nos basta dizer, “Hasta Siempre, Comandante”!