O que dizer de Cuba, que não esteja já dito?
Que é maravilhosa, cheia de recantos encantadores, de gentes acolhedoras, de praias de um azul incontestavelmente belo? Isso já muitos disseram. Mas há muitas coisas que cabe a cada um de nós dizer.
Embarquei nesta aventura no dia 5 de Maio de 2008, rumando em direcção a Madrid.
Fui, na companhia de duas amigas, sem destino traçado, para além das dormidas nas noites de chegada e partida de Havana. Tudo o resto era espaço e desconhecido e uma vontade enorme de partir para vencer.
Chegadas a Madrid tivemos o prazer de conhecer a encantadora peruana Brissy, a irmã da Aimy. Como não poderia deixar de ser, “xupámos” umas cañas até às 23 horas, enquanto falávamos de tudo um pouco.
(la Latina - Madrid)
De seguida, aeroporto de Bajaras. Porta de embarque 42 voo Air Europa, destino Cuba. Esta foi a parte mais difícil da viagem. 10,5 horas dentro de um avião. A viagem, que demora normalmente 8,5 horas tornou-se num martírio. Apesar da minha capacidade de dormir em quase todo o lado, esta viagem foi particularmente penosa. Consegui até ver dois filmes completos…nunca tal me tinha acontecido, devo estar a perder qualidades.
Entretanto, à medida que o cansaço apertava, o destino aproximava-se e o tempo parecia assim andar sem pressas.
Enfim, aterrámos em solo Cubano. Que bom!
(aeroporto Jose Martí - La Havana)
A passagem no controlo de estrangeiros foi estupidamente simples. Eu vinha a contar com uma coisa à moda de Luanda e fiquei impressionada... estava no primeiro mundo!
Como na primeira noite já tínhamos hotel marcado, fomos directas para lá deixar as malas, sempre a conversar com o motorista de táxi que nos dizia. “Nós os Cubanos somos pobres, mas somos muito ricos. E partilhamos com o Mundo tudo o que temos”. E é verdade, esta constatação e afirmação de altruísmo veio a confirmar-se em todos os locais onde estivemos.
Entretanto eram 20:00 e já ninguém estava com paciência de passear. Comemos uma refeição e fomos dormir.
Devido ao famoso jet lag acordámos cedíssimo. Tomámos o pequeno almoço e rumámos para Havana Vieja, a pé, pelo Malécon. Escusado será dizer que foi um passeio interessantíssimo, tendo em conta que só de Malécon percorremos 5 km. Mas desta forma, fomo-nos imiscuindo no espírito Cubano, com muita calma.
(Malécon - Havana)
Neste primeiro dia, fartámo-nos de passear. Percorremos o centro da cidade a pé, almoçámos num restaurante de rua (um belo repasto de arroz chinês). Ao fim da tarde, brindamo-nos com os melhores Mojitos de Havana. Se lá forem não percam o Hotel Tejadillo. Uma música ao vivo para preencher memórias.
(os melhores Mojitos...) (um mojito matreiro) (e ainda Mojitos)
Ao fim do diz, metemo-nos num Coco-táxi para ir buscar as malas ao Hotel e partir para a Casa do Carlos. Uma família cubana simpatiquíssima e muito típica.
(Viagem no coco-táxi)
A avó era uma querida e queria por tudo que conhecêssemos um cubano e que ficássemos em Cuba. Segundo ela os Cubanos são os melhores do mundo. O que era sem dúvida o melhor do Mundo foi o pequeno-almoço que nos serviu no dia seguinte de manhã. Sumo de Goiaba. Nunca tinha bebido, e nem sou apreciadora de Goiaba, mas lambi os lábios e bebi vários copos.
Continuámos a nossa empreitada em Havana. É uma cidade magistral sem dúvida. Cada casa é um monumento digno de uma foto. O facto de ter este ar de quem parou no tempo, ajuda a perpetuar a sua fama de cidade inesquecível. È de facto uma bela cidade, diga-se o que se disser, La Havana é La Havana. Cheia do seu burburinho de gentes, de carros de filme, de cheiros.
(O baseball em Cuba, na calle Neptuno) (o descanso no museu da Revolução) (um mural revolucionário)
A Ana dizia, será que algum dia poderemos guardar as emoções e os cheiros, como fazemos com as imagens? O que eu te digo é que isso é o que levamos só nosso, para onde quer que vamos. Os cheiros, as cores, o tacto, as sensações. Não é maravilhoso não partilhá-las com mais ninguém.
(Capitólio) (Catedral de Havana) (uma praça em Havana)
Depois de Havana e de nos termos digladiado para conseguir uma viatura, partimos para Vinãles, ou Vinhais como ficou mais conhecida.
Uma cidade no meio da montanha, sobejamente conhecida pela cultura de café e por ser a região de Cuba com maior número de grutas.
Não era um sítio infestado de turistas. Uma pequena vila muito calma.
(Chez nous) (uma rua de Vinãles)
Aqui, claro, tivemos um furo no pneu…Aqui tivemos uma conversa de 2 horas com o mecânico, sobre política internacional, os EUA, Cuba, Fidel e Raul, Marxismo-Leninismo, Angola, o socialismo e o comunismo, etc.
(o carro do meu chefe teve um furo no pneu...)
Embora os Cubanos não tenham poder de compra, é uma realidade, o facto é de que têm um desenvolvimento Humano invejável. Também é um facto de que a sociedade é de facto uma sociedade e que as pessoas a entendem como tal. Também cada um sabe qual é o seu papel na sociedade, e que a sua é de facto justa. O sentimento de partilha e altruísmo é impressionante, que esta é sem dúvida a mais correcta forma de estar na vida, partilhando e dividindo.
Foi uma boa conversa.
Partimos então com duas horas de atraso, mas com a certeza de que os EUA não são um bom sítio para viver.
Direcção: Maria La Gorda. Um lugar recôndito mas que nos deixou estarrecidas, a reserva da Biosfera de Guanahacabibe. Nunca tinha visto tantas cores de azul num mar. Esta foi a mais bela praia onde já estive. É sobejamente conhecida pelas suas qualidades para o mergulho. Há que voltar para praticá-lo. Aqui fizemos uma boa praia, sim sr.
(a vista do quarto) (praia de Maria la Gorda)
De Maria La Gorda seguimos para Baía dos Porcos. Esse local onde os EUA foram derrotados e do qual guardam uma memória de vergonhas… Os placares estavam em todo o lado, para perpetuar a memória de vitória sobre os Yankes.
(Baía dos Porcos)
Aqui queríamos ver os crocodilos. Em Zapata, a zona mais inóspita e menos povoada de Cuba, existe uma espécie de crocodilo que só existe aqui e está ameaçada. Apenas restam 6.000 indivíduos. Como não tínhamos muito tempo, porque na noite anterior tínhamo-nos empanturrado com umas lagostas e peixe, decidimos marcar a visita ao parque para quando regressássemos em direcção a Havana.
E fomos, para Trinidad. Que terra!
Ficámos na Casa do Orlando. Que simpatia. Se ficássemos mais uns dias acho que nos adoptavam! Eram uma delícia. Agora Trinida. A cidade transpira história em cada pedra das suas calçadas. Música em todo a parte e claro, o charme dos Cubanos a tentarem-nos convencer que as portuguesas são muito mais bonitas que as espanholas! E isso não foi só aqui que nos disseram, por isso deve ser mesmo verdade.
Mais um ponto a nosso favor, contra nuestros hermanos.
Embora os Mojitos não fossem tão bons como em Havana, também se bebiam, senão também tínhamos a Bucanero para nos refrescar do calor insuportável que se fazia sentir.
(casa de la Musica - Trinidad by night)
Apesar de todo o calor, partimos numa empreitada hercúlea, para três mulheres sedentárias! Conhecer o Salto de Toppes de Collantes. Uma descida de 2 horas, sobre um calor abrasador e uma humidade insuportável, foram recompensados por um mergulho na cascata. Que bom! Claro que houve alguém que não foi mergulhar por ter visto uma cobra.
(Topes de Collantes)
Se a descida foi compensada, a subida já não. Quase que morríamos… é o que acontece às meninas que ficam paradas sem fazer nada!
Partimos depois de Trinidad em direcção a Santa Clara. Aqui ficámos em Remédios, uma vila pitoresca perto do Caio de Santa Maria.
Era este o nosso objectivo, conhecer o Caio, mas quando nos disseram que para irmos à praia tínhamos que pagar 2€ cada, desistimos da ideia e fomos procurar outra praia deserta que não fosse propriedade de um qualquer hotel. Conseguimos, mas já era quase de noite. Então partimos e pensámos “vimos cá amanhã”.
Qual quê, se não fosse eu a ter um rompante e lembrar-me que já deveríamos naquela altura estar em Havana, tínhamos ficado em Cuba. O que não era mau de todo, mas impraticável.
O stress aumentou e a tristeza também ao apercebermo-nos que já nos tínhamos que ir embora no dia seguinte.
Partimos então em direcção a Santa Clara, para ver o mausoléu “del Ché”, ao som de Hasta Siempre!
Corremos para Havana, fizemos umas compritas, bebemos um Mojito e despedimo-nos com a lágrima ao canto do olho.
Ficou-nos esta certeza: vamos voltar.
Viva Cuba.